CURSO LITURGIA
ENCONTRO 9 – O ANO LITURGICO.
CICLO DA PASCOA – SEMANA SANTA E
O TRIDUO PASCAL.
Além de preparar o cristão para a Páscoa, a Quaresma
quer fazer com que o mistério da Páscoa seja vivido a partir da Paixão. Ela faz
com que a Igreja suba com Cristo para Jerusalém.
A subida de Jesus para Jerusalém não é só uma
peregrinação, mas tem um significado messiânico e teológico que deve ser
colocado em relevo: Jesus vai a Jerusalém para cumprir a vontade do Pai.
Para a comunidade cristã a Quaresma é um novo êxodo,
um retorno do exílio para Jerusalém, isto é,
para a Páscoa de Cristo, que edifica a comunidade como Igreja.
Seguindo a Quaresma com este espírito, chega-se com
fé mais iluminada à Semana Santa, quando a liturgia segue passo a passo os
últimos acontecimentos da vida terrena de Jesus.
“O mistério pascal, que encontra na Semana Santa a
sua mais alta e comovida celebração, não é simplesmente um momento do ano
litúrgico ele é a fonte de todas as outras celebrações do próprio ano
litúrgico, porque todas se referem ao mistério da nossa redenção, isto é, o
mistério pascal.” (Paulo VI)
1 - DOMINGO DE RAMOS –
O Domingo de Ramos que inicia a “grande semana”
ainda faz parte do tempo da Quaresma.
Neste dia a Igreja faz a memória da entrada de
Cristo Senhor em Jerusalém para ai
realizar o seu mistério pascoal.
Na liturgia revivem e se revelam os dois aspectos
fundamentais da Páscoa: a entrada messiânica de Jesus em Jerusalém como anuncio
e figura do triunfo da sua ressurreição e a memória da sua paixão, que marca a
libertação da humanidade do pecado e da morte.
Este é o único domingo em que se faz tal memória da paixão do Senhor.
Solenemente comemorada com a procissão coloca em
relevo a entrada de Jesus na Cidade Santa, aclamado pela multidão dos hebreus
como Messias o que tem um profundo significado de fé: Enquanto os chefes do
sinédrio pensam na eliminação de Jesus, além dos hebreus que o aplaudem, os
pagãos pedem para ver Jesus. O Filho do Homem é glorificado sendo reconhecido
pelo resto de Israel e pelas primícias dos povos pagãos ( Cf Jo, 12,12-50).
O rito que comemora a entrada de Jesus em Jerusalém
deve predispor o animo dos fieis à proclamação da paixão de Jesus na liturgia
da palavra e à sua atuação sacramental na litúrgica eucarística. Todos os
textos bíblicos são escolhidos nesse sentido.
2 - O TRIDUO PASCAL.
A Páscoa é celebrada sacramentalmente em três dias:
A Sexta Feira Santa celebra a Paixão; o Sábado Santo s sepultura; o domingo, a
ressurreição. Pode-se notar que a Quinta Feira Santa não faz parte do Tríduo e
é considerado como “o dia anterior à Páscoa”, ou mais simplesmente “a quinta
feira da ultima semana da Quaresma”.
2.A - Quinta Feira Santa. – Embora não faça
parte do tríduo pascal a Missa da Ceia do Senhor tem profundo significado para
a celebração da Páscoa.
Esta missa é considerada como abertura da celebração
da “bem aventurada paixão”. Ela nos fornece o momento sacramental do próprio
mistério, ou seja, atualiza e perpetua a sua presença através dos tempos.
Assim, enquanto o Tríduo nos apresenta a realidade do mistério pascal único e
unitário na sua dimensão historia, a Quinta Feira Santa o transmite em sua
dimensão ritual
No rito da ceia, que Jesus ordenou celebrar em sua
memória, ele nos deu o seu sacrifício pascal. A Igreja por vontade de Cristo,
repete a ceia para perpetuar a Páscoa.
Ela não deve ser apresentada aos fieis como a “missa da comunhão
pascal”, pois a verdadeira eucaristia da Páscoa é aquela da Vigília do sábado à
noite.
2.A.1. – a Adoração da Eucaristia.
Ao
terminar a celebração da missa, as sagradas espécies são conduzidas processionalmente
para um lugar devidamente preparado, a fim de que sejam colocadas num
tabernáculo, adoradas e conservadas para a comunhão da Sexta Feira Santa. Este
sinal de adoração quer sublinhar os aspecto derivado da celebração da missa: a
presença permanente de Cristo sob as espécies eucarísticas.
2.B – Sexta Feira Santa . – A liturgia não
considera a Sexta Feria Santa como dia de luto e de pranto, mas de amorosa
contemplação do sacrifício cruento de Jesus, fonte de nossa salvação. Ela
celebra a morte vitoriosa do Senhor e por isso fala da “bem-aventurada” e
“gloriosa” paixão.
Segundo
uma antiqüíssima tradição a Igreja não celebra nesse dia a eucaristia. O
elemento fundamental da liturgia deste
dia é a proclamação da palavra.
2.B.1 – Liturgia da Palavra. Não há muitos ritos introdutórios. Depois da
prostração e de uma breve oração, procede-se imediatamente às leituras.
2.B.2 – A Solene Oração dos Fieis. -Depois da
leitura dos textos bíblicos que culmina com a leitura da narrativa da paixão
segundo João, a liturgia da palavra se conclui com a solene oração dos fieis
para as grandes intenções da Igreja e do mundo. Com esta oração solene que a
Igreja faz em nome de Jesus, único sacerdote, ela apresenta ao Pai as suas
grandes intenções. Com esta oração solene, toda a família de Deus e toda a
humanidade são como que levadas aos pés da cruz, na qual Cristo morre por
todos.
2.B.3. – A Adoração da Cruz. A Igreja não celebra a
ceia do Senhor na Sexta feira Santa. A liturgia está toda concentrada no
sacrifício cruento de Cristo e não em seu rito memorial. A expressão “adoração
da cruz” pode ser ambígua, se não for
explicada: o que adoramos é a pessoa de Cristo crucificado e o mistério
que esta morte significa para nós.
A Igreja não separa a morte de Jesus da sua
ressurreição e por isso a Igreja faz um hino de louvor e de glorificação à cruz
celebrando Cristo vencedor da morte e já proclama a sua ressurreição com a
antífona: “Adoramos a vossa cruz,
Senhor; louvamos e glorificamos a vossa santa ressurreição. Do madeiro da cruz
veio a alegria ao mundo inteiro”.
2.B.4 – Comunhão.-. Durante muitos séculos não se
comungava na Sexta Feira Santa por se considerar que nesse dia os apóstolos
estavam mergulhados na tristeza e deviam ter ficado em jejum pela ausência do
Esposo, não apenas do alimento material, mas também do espiritual, a
eucaristia, na expectativa do seu retorno (Cf Mt 9,14-15). A comunhão foi
introduzida na reforma da Semana Santa realizada por Pio XII em 1955. Muitos
criticaram a decisão entendendo que se corria o risco de desfocar o objetivo do
ponto culminante do Tríduo: a participação a eucaristia na Vigília pascal e o
significado do dia litúrgico.
Se as coisas
são apresentadas com seu verdadeiro sentido, através de catequese apropriada, é
possível sublinhar o lado positivo do rito. Toda comunhão, mesmo feita fora da
missa, é sempre comunhão com Cristo, que se oferece por nos em sacrifício ao
Pai. É este o significado especifico que se deve salientar.
2.B.5 – Rito final – O solene ato litúrgico da paixão
e morte do Senhor conclui-se com uma oração e com a benção do povo que em
seguida, silenciosamente se retira.
2.C.- Sábado Santo. A Igreja fica parada junto ao
sepulcro do Senhor, meditando a sua paixão e morte, abstendo-se de celebrar o
sacrifício da missa (a mesa fica sem toalha e ornamento) até a solene Vigília
ou expectativa noturna da ressurreição.
O Sábado Santo é um dia “alitúgico”, isto é, sem
celebração eucarística e a Igreja se limita a convocar a assembléia para a
Liturgia das horas, diferentemente da Igreja antiga que não se reunião nem para
oração. Quase nada é dito sobre o mistério da salvação contido no repouso de
Cristo na tumba. É então oportuno uma reflexão sobre o conteúdo do artigo do
Credo sobre a descida de Cristo à mansão dos mortos.
A inserção deste artigo no Credo apostólico remonta
ao século IV e foi feita sem lhe dar nenhuma interpretação.
2.C.1 – O primeiro significado deste ponto da fé diz
respeito à morte de Cristo na cruz. Jesus morreu realmente porque é realmente
homem.
2.C.2 – outro significado, que de certa forma é
incluído no anterior, é a solidariedade de Jesus, morto na cruz, com todos os
homens mortos. Assim como foi solidário com os vivos, foi também solidário com
os mortos.
2.C.3 – A descida à mansão dos mortos assinala a
vitória de Cristo em favor dos homens que viveram sob a antiga aliança.
2.D. – Domingo de Páscoa -Vigília Pascal na Noite
Santa e Missa do Dia.
2.D.1 – Vigília Pascal.
2.D.1.A – Páscoa Judaica – Na páscoa judaica já
estava presente a motivação da Vigília na qual era celebrado o rito pascal:
“Esta foi a noite de vigília para o Senhor, para faze-los sair do pais do
Egito”. Portanto, “assim deve ser para todos os filhos de Israel uma vigília
para o Senhor, em todas as gerações”. (Ex 12,42)
Durante esta vigília, os israelitas celebrando o
rito pascal, faziam a memória da salvação realizada por Deus nos eventos do
êxodo. “Esse dia será para vocês um memorial, pois nele celebrarão uma festa
para o Senhor, vocês celebrarão como um rito permanente, de geração em
geração”. (Ex 12,14).
Nos textos do judaísmo a teologia da Páscoa acentua
também o aspecto escatológico. A vigília pascal dos judeus, depois da
destruição do templo, concluía-se com um “adeus a Jerusalém” , cheio de
esperança temporal: “Até o próximo ano em Jerusalém”. “Ele reconstruirá a sua
casa em breve, logo, logo em nossos dias.”.
2.D.1.B - Páscoa Cristã. Na páscoa cristã, a
estrutura teológica da Vigília pascal não muda, mas é enriquecida com a
“realidade” que é Cristo, o Crucificado-Ressuscitado.Ele é a páscoa da nossa
salvação. .
Os cristãos vigiam na noite de Páscoa para celebrar
toda a econômica salvífica, numa visão unitária e continua deste a criação até
a parusia. . O conteúdo litúrgico e teológico da Páscoa é de caráter
comemorativo recordando e revivendo o evento salvífico da morte-ressurreição de
Cristo.
O sentido mais verdadeiro da Vigília é este: nós já
estamos vivendo a Páscoa que celebramos no rito. Celebramos para que se realize
sempre mais profundamente em nós, na expectativa da Páscoa eterna. “a noite vai avançada e o dia está próximo.
Deixemos, portanto, as obras das trevas e vistamos as armas da luz... Vistam-se
do Senhor Jesus Cristo”. (Rm 13,12-14).
2.D.2 – O dia de Cristo Senhor. – A liturgia do dia
de Páscoa celebra o evento pascal como “dia de Cristo Senhor”.
As leituras bíblicas contem o “kérigma” pascal e um
chamamento para o empenho da vida nova em Cristo ressuscitado. Elas acentuam o
valor sacramental da celebração da Páscoa, que participada, faz entrar numa nova
condição de vida.
Somente Cristo levou a termo a verdadeira vocação
humana, porque é Homem-Deus. Na sua ressurreição comunica ao mundo o seu
Espírito de vida que muda o coração do homem, Espírito de liberdade, que redime
o homem de suas escravidões e exatamente na raiz, pois resgata o homem do
pecado.
A Páscoa de Cristo liberta o homem “por dentro”,
pois até que o homem seja ameaçado pelo seu pecado, nenhuma libertação exterior
está garantida.
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